A CASA DOS ESPÍRITOS (PEYXOTÉ)



            Nossos antepassados contavam que havia um homem chamado IXIWAI (dono da bebida) que de uma hora pra outra ficou doido. Gritando e dizendo “já vou, já vou!” quando os outros perguntavam oque estava acontecendo ele respondia:
                -é que eu tive um sonho ruim pessoal, sonhei que o mutum estava piando (quando o mutum piava era sinal de que estava chegando à guerra ou algum inimigo estava prestes a matar pessoas da tribo).
                Assim todos ficaram abalados com o sonho misterioso, que parecia ter significado, então disseram:
                - Agora só tem um jeito de prevenir a má sorte, você deve contar a todos em suas casas o seu sonho, falar para todos se perdurarem nas portas das suas malocas e dizerem bem alto “NÃO VOU Morrer, NÃO VOU MORRER” “ AFASTE-SE DE MIM SONHO RUIM “..
                Então o IXIWAI vai correndo para contar a todos o seu sonho. Mal tinha andando um pouco e já tinha esquecido de tudo que ia fazer. Isso aconteceu por que seu espirito estava com tanto medo que quis ficar para trás e se agarrar em uma maloca velha abandonada e só o corpo estava indo sozinho.
                Naquela maloca velha os nossos antepassados e antigos donos “Pamoei” passaram todos os dias ficando de tocaia e esperando os animais virem comer frutos e coquinhos. Quando IXIWAI passou por ali viu uma velhinha fracas que não conseguia acompanha sua família na mudança. Ele estava com pena da velhinha, parou e disse:
                - ô tia (Moiá) tudo bem contigo?
Ela respondeu; sim e você meu sobrinho como vai?
                -Vou bem, estou indo fazer armadilhas para pega alguma caça!
Ela respondeu: traga um pedacinho para mim!
                - Trago sim.
Logo, logo IXIWAI conseguiu pegar uma cutia, pegou também umas larvas, iguarias de coqueiros de tucumã, embrulhou em folhas e foi presentear a velhinha. Quando chegou lá olhou dentro da maloca lá no fundo, viu alguma coisa parecida com fogo, uma brasa viva e não percebeu que era o travesseiro da velhinha, como se ela tivesse o como no corpo dela. Ele disse:
- Tia (Moiá), Tia (Moiá), ele ia entrando na maloca e chamando a velhinha, aproximando dela lá no fundo foi tentando tira o fogo dela achando que ela estava se queimando.
Quando ele tentava assoprar o fogo que estava nela, de repente um barulho, AUUUUHH. Era a velhinha virando espirito, querendo agarrá-lo, não havia nem mais velhinha e nem fogo.
Ele saiu correndo, o mais rápido possível.  La dentro da maloca a velhinha falava para os outros espíritos:
- Lá vai ele fugindo! E não o deixou sair
E cada vez mais iam aparecendo mais espíritos dentro da maloca..
IXIWAI aterrorizado, não parava de chorar. De repente ouviu alguém o chamando:
- Ei moço, não chora, vem aqui!
Era o milho que tinha se transformado em gente, ele mesmo tinha colhido e colocado na armação da maloca velha. Ele deu um pulo e já estava lá em cima na armação.
Os espíritos gritavam: matem o moço, matem o moço. A cutia também estava no meio deles, mesmo depois de morta ela estava querendo vingança. E dizia:
- Foi assim que esse homem me matou, vejam meus olhos virados, por que hoje eu sou um cadáver, foi aqui que ele me amarrou, agora façam o mesmo com ele.
 De repente todos na maloca começou a se mexer, fazendo barulhos das pancadas do machado nas lenhas. Parecendo gente viva. Falavam;
- Vamos busca lenha, vamos fazer bebida e fazer uma festa para comemorar.
O espirito que ia mata o IXIWAI, disse: vou fazer minhas fechas!
O movimento era tanto, que um espirito esbarou em um tronco chamando de IAMÁ, é o tronco onde os guerreiros sentam, é o centro da casa. O IAMÁ caiu e fez um estrondo, como se tivesse anunciando o fim de tudo, apavorando ainda mais o IXIWAI.
Dava para ouvi o barulho da água nos caldeirões. As almas começaram a socar milho no pilão “tong, tong, tong”... o pânico de IXIWAI crescia, pois sabia que ele era a caça.
Já estavam os espíritos em plena festa, tomando grandes quantidade de sopa fermentada, vomitando para embebedar-se mais. Não tinha nada de diferente das festas dos vivos, as almas dançavam e ria de alegria. A borboleta da noite bebia e dançava sem parar.
Dava para ouvir as crianças chorando querendo o colo dos pais, como das festas dos vivos, os espíritos da metade da roça pediam cada vez mais bebidas para suas mulheres que traziam as panelas de barros até a tampa de tanta bebida. Diziam: quem é que vai chama o macaco da noite? pois o macaco da noite é um monstro temido pelos homens, que consegue subir em lugares algo e pode pega o IXIWAI, seria capaz de matá-lo antes do amanhecer.
Um deles disse, pode deixa que eu vou.” Tunnnnn, tunnn, tuunnn” de longe já se ouvia a flauta do macaco da noite anunciando sua chegada, (é do costume dos Paiter Surui anuncia sua chegada com um flauta).
O milho falou com ele de novo: pera vou ver o que posso fazer por você!
Cada vez mais o som da flauta ia chegando mais perto.
IXIWAI gritava, com medo: o macaco já está chegando, ele vai me matar!
-Sossega rapaz, temos que da um jeito nisso! O milho dizia.
                Começou a clarear e o dia estava chegando, conta se que apenas no escuro que os espíritos atacavam. Então os espíritos viram que o amanhecer estava chegando, pois perdem o seus poderem com a luz e assim voltam a ser objetos de casa abandonada.
                - Todos os espíritos começaram a gritar: vou volta a ser uma casa velha! Vou virar brasa velha! vou virar pilão velho! panela velha! esteira velha!
                O dia vinha amanhecendo e os espíritos desesperados iam sumindo. Conta se que os espíritos colocaram escorpiões, cobras, aranhas e formigas tucandiras, todos os bichos perigosos da floresta bem debaixo no IXIWAI, para ele não poder descer.
                Clareou e o irmão de IXIWAI estava procurando: Onde está você! gritava.
                - Aquiii! Foi aqui que as almas me atormentaram! foi aqui que me torturaram!
O irmão, chamou outros parentes para matar todos os escorpiões, cobra e aranhas, e fez descer e voltar para casa.

Comentários

  1. Muito apreciável e importante conhecer histórias verdadeiras do Povo Paiter Suruí. Creio que a Coordenadoria do Ensino Indígena da Secretaria de Educação do Estado de Rondônia e as Universidades [todas, sem exceção] poderiam reproduzi-las em seus conteúdos. Essa cultura tem que seguir viva. Fraterno abraço.

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